O juiz criminal Henrique Baltazar Vilar dos Santos, foi o entrevistado na terça-feira, 27 de outubro, no programa Comando Geral da Rádio Caicó AM, dentro da série “Os Males das Drogas”.
O crime organizado
Com relação a instalação do crime organizado em Caicó, e região, o juiz Henrique Baltazar, disse que tem certeza que os vários grupos criminosos estão atuando, principalmente comandando o tráfico de drogas.
Enquanto ainda era juiz de Caicó, mandou que fosse apurada denúncia de que na região existia um laboratório de refino de droga. “Eu não acredito que tenha mudado. As informações que chegam dão conta que existe até uma melhor organização do crime ai na região. Inclusive o próprio F. Gomes, dizia em seu programa do envolvimento de empresários, e pessoas da alta sociedade que estavam envolvidas com o crime organizado. A droga é a maior fonte de rendas desses criminosos”, aponta.
A ligação de criminosos com pessoas influentes em Caicó, que tantas vezes foi combatido por F. Gomes em seu programa de rádio, também foi lembrada pelo juiz. “O crime organizado, ele, já cooptou pessoas que tem dinheiro na região do Seridó, e estas pessoas estão com mais estrutura para trabalhar e comprar drogas. Temos informações de presentes caros que foram dados à pessoas que ocupam certos cargos na região, pessoas que poderiam combater o tráfico de drogas e na verdade estão cooptadas pelos traficantes”, denuncia.
Finalizando o juiz falou da Polícia Federal para atuar em Caicó, e disse que o importante agora é que se luta para a implantação de um núcleo de inteligência desta polícia. “Vai dar mais resultado que uma delegacia, que tem tantos trabalhos burocráticos, se tiver pelo menos uma equipe trabalhando com inteligência será muito melhor”, disse.
Sistema falho
Sobre o sistema prisional brasileiro, o magistrado afirmou que ele não funciona como deveria, e isso facilita para os presos o comando de determinados crimes como, por exemplo, o tráfico de drogas. “O sistema prisional brasileiro é de uma ineficiência absurda. Primeiro nós temos os processos que não conseguem funcionar direito, segundo uma lei que na verdade se torna muito benéfica para o tráfico, e terceiro, a gente sabe que existe uma total utilização de telefones celulares dentro dos presídios. Pra você ter uma idéia, no ano passado eu autorizei uma varredura eletrônica nos presídios aqui em Natal, e foi constatado que só na penitenciária de Alcaçuz, havia mais de 250 telefones celulares funcionando”, revelou.
Para ele, o Estado sabe, e o sistema não consegue evitar que os presos dentro dos presídios usem telefones, e continuem controlando suas quadrilhas.
“Além de não conseguir evitar, falta vontade para coibir a prática”, disse, lembrando que existem equipamentos que bloqueiam o uso de telefones celulares, e esse equipamento no RN não é utilizado. “É tão simples, você veja que se qualquer uma pessoa for ao cinema, não vai usar o telefone lá dentro, porque não funciona. Ali existe o bloqueio do celular, e porque não utilizar nos presídios”, afirma.
Polícia Civil
Com relação ao que disse o promotor Geraldo Rufino, de que existe um sucateamento da Polícia Civil no Rio Grande do Norte, o juiz disse que não verdade o que acontece é falta de vontade de trabalhar. “Nós temos excelentes policiais na Polícia Civil do RN, temos ótimas equipes trabalhando, e temos infelizmente um grande número de policiais que não trabalha que são ineficientes, delegados de polícia que viraram meros burocratas”, disse.
“Se fizerem uma pesquisa nos fóruns de justiça irão constatar que a maioria dos processos não resultam de investigação. A maioria resulta do flagrante que foi feito pela Polícia Militar, o delegado só faz botar no papel”, dispara.
Ele citou como exemplo a operação Boqueirão, desencadeada pela Denarc e pela Deicor de Natal, em Parelhas aonde foram presas dezenas de pessoas. A operação foi permanente no início deste ano. “Foi preciso outras equipes, fazerem o trabalho, e porque as equipes locais não fizeram a investigação e prenderam quem tinha que ser preso?”, questiona, e destaca, “não diga que é porque não tem policiais suficientes para fazer o trabalho porque não é, isso é conversa. Quando eu trabalhei em Caicó, um pequeno grupo da Polícia Militar, a P/2, fez muitos trabalhos de investigação, prisões e apreensões de drogas”, disse.
Fazendo um comparativo, o juiz afirmou que a Polícia Civil do RN, é tão bem equipada quando a PF, destacando o uso de equipamentos sofisticados no combate ao crime organizado.
“Porque que a Polícia Federal conseguiu bons resultados quando esteve em Caicó, com uma equipe pequena trabalhando, e a Polícia Civil não consegue? Ora, dizer que a PF é muito bem equipada e por isso... veja bem, a Polícia Civil do RN é tão bem equipa quanto a PF, talvez tenha mais equipamentos que eles. Um exemplo prático, é que a Polícia Civil, monitora mais telefones do que a PF consegue. A Polícia Federal quando quer fazer testes em laboratório, tem que mandar pra Brasília, enquanto a Polícia Civil faz aqui no estado mesmo, então no meu ponto de vista o que existe é falta de vontade de trabalhar”, afirmou.
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