terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Homens representam 83% do total de mortos em acidentes e homicídios do país

Acidentes e violências – as chamadas causas externas – representaram 12% do total de mortes ocorridas no Brasil em 2008. Elas somaram 133.644 dos 1.066.842 óbitos registrados naquele ano. Foram a terceira maior causa de mortes no país, atrás das doenças do aparelho circulatório e as neoplasias. Os homens continuam maioria entre os mortos (83,1% do total de vítimas) e entre os feridos que precisaram de internação hospitalar (70,3%). (Confira a apresentação em www.saude.gov.br)

Os dados constam no capítulo Acidentes e violências no Brasil: um panorama atual das mortes, internações hospitalares e atendimentos em serviços de urgência, do “Saúde Brasil 2009” – publicação anual da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. O trabalho apresenta uma descrição da mortalidade, morbidade hospitalar e atendimentos de emergência no Sistema Único de Saúde.

As causas externas representam uma crescente demanda pelos serviços de saúde públicos. Portanto, sua prevenção é um desafio permanente para profissionais e gestores do setor, bem como para toda a sociedade brasileira”, afirma o diretor do Departamento de Análise de Situação de Saúde, Otaliba Libânio de Morais Neto.

HOMENS E MULHERES – O risco de mortes por causas externas entre os homens foi 5,1 vezes maior do que entre as mulheres. Para eles, as principais causas de morte violenta foram as agressões (40,6% do total), especialmente as provocadas por armas de fogo (29,4%). Em seguida, estão os acidentes de trânsito (26,9%), especialmente com motocicletas (6,9%). A maioria dos mortos do sexo masculino estava na faixa dos 20 aos 39 anos (50,4%) e era de cor parda (48,1%).

Para as mulheres, a maior proporção de mortes por causas externas deveu-se aos acidentes de trânsito – 30% do total registrado nessa categoria. A maioria das vítimas era pedestre (9,8%). As agressões vêm em segundo lugar, com 17,3% – entre esses óbitos, 8,8% foram por armas de fogo. Do total de mulheres vítimas de causas externas, 33,8% das mulheres tinham 60 anos ou mais, sendo a maioria (53,3%) de cor branca (ver tabela 1).

“Devido ao excesso de mortes de homens por causas externas, fizemos a razão de risco entre os sexos segundo o tipo de acidente ou violência. O maior valor encontrado foi para agressões com arma de fogo, onde o risco de um homem morrer por este tipo de agressão mostrou ser 16,7 vezes o das mulheres”, detalha o diretor da SVS, Otaliba Neto. “O menor valor encontrado foi para o risco de queda, porém, os homens continuam com um risco pelo menos 1,9 vez maior do que as mulheres”, acrescenta Libânio.

Ele observa ainda que, segundo o estudo, na população geral, o risco de uma pessoa de raça/cor parda ser vítima de homicídio mostrou-se 2,1 vezes maior do que o de um indivíduo da raça/cor branca. Para os de cor/raça preta, esse risco ficou 1,8 vezes acima dos de raça/cor branca. Os brancos, por sua vez, foram maioria entre as vítimas nos acidentes de trânsito fatais e são os que apresentam o maior risco de morrer nestes eventos (ver tabela 2).

RISCO POR IDADE – Outra distinção feita no documento é o risco de morte por acidentes de transporte terrestre, suicídios, homicídios e quedas nas diferentes faixas etárias. Na faixa de 0 a 14 anos, são os pedestres as vítimas sob maior risco. Dos 15 aos 29 anos, o maior risco de morte é para motociclistas e ocupantes de veículos. Entre 40 e 60 anos, verifica-se o aumento da probabilidade de morte para pedestres e a redução dos riscos para motociclistas e ocupantes de veículos. No grupo com 60 anos e mais, são os pedestres, novamente, os mais vulneráveis (ver tabela 3).

Ao considerar as taxas de mortalidade por suicídios e homicídios, verificou-se o baixo risco entre crianças e adolescentes com até 14 anos. Dos 15 aos 19 anos, o risco de morrer por homicídios aumenta expressivamente, atingindo seu pico na faixa dos 20 aos 39. No estudo, o risco de suicídio aumentou progressivamente com a idade, atingindo o maior valor acima dos 60 anos.

Os idosos também são os mais ameaçados pelas quedas. O risco de pessoas acima dos 60 anos morrerem desta forma foi 50,5 vezes maior do que no grupo de 0 a 9 anos; e 5,9 vezes maior que na faixa dos 40 aos 59 anos. Mortes por causas externas, de intenção indeterminada, também representaram maior risco para os idosos.

“As taxas de mortes indeterminadas aumentam abruptamente para os idosos, o que sugere uma possível relação com os óbitos de pessoas que moram sozinhas e sem assistência. Nestas situações, é mais difícil precisar se os óbitos decorrem de uma causa externa ou natural”, explica Libânio.

NAS CAPITAIS – Maceió, Recife, Vitória, Salvador e Belém foram as capitais que apresentaram os coeficientes de homicídios mais altos (ver tabela 4). Em Maceió, foram registrados 101,6 óbitos por 100 mil habitantes, enquanto este indicador foi de 61,2 em Recife; 58,9 em Vitória; 57,1 em Salvador; e 50,3 em Belém.

Também foram essas as capitais que se registraram as taxas mais elevadas de mortalidade para o sexo masculino – 207,2 óbitos por 100 mil habitantes em Maceió; 120,7 em Recife; 113,7 em Salvador; 113,0 em Vitória; e 100,3 em Belém. Entre as mulheres, grupo em que a taxa de mortalidade por homicídio foi bem menor em relação aos homens, as maiores taxas ocorreram em Vitória (8,5), Cuiabá (7,6), Maceió (7,1), Recife (6,8) e Curitiba (6,6).

Para Otaliba Libânio Neto, esses dados indicam que a região Nordeste deve merecer maior atenção das autoridades públicas de segurança e saúde no esforço de prevenir homicídios. “Em Salvador, por exemplo, a taxa de mortalidade por homicídio é 12,1 vezes maior do que a de acidentes. Mas a boa notícia é que, desde 2004, a taxa de mortalidade por homicídios está em tendência de queda no Brasil”. Na comparação dos triênios 2008-2006 e 2002-2001, houve redução de 23,5%. A maior queda proporcional (menos 117,6%) ocorreu em São Paulo (ver tabela 5).

Quanto aos acidentes de transporte terrestre, o trabalho de prevenção deve ser intensificado nas regiões Norte e Centro-Oeste, que concentraram a maioria dos casos. As capitais com risco mais alto de mortes em decorrência desses acidentes foram Porto Velho (37,5 óbitos por 100 mil habitantes), Boa Vista (36,8), Palmas (31,6), Campo Grande (29,9), e Cuiabá (25,5) – (ver tabela 6).

As únicas capitais onde as taxas de acidentes superaram as de homicídio foram Florianópolis, Teresina, Campo Grande, Boa Vista e Palmas. Nas mortes decorrentes de acidentes de transporte terrestre, em todo do país, a maior parcela (47,6%) ocorreu entre os usuários mais vulneráveis do sistema viário: pedestres (24,2%) e motociclistas (23,4%). Os ocupantes de veículos corresponderam a 24,4% do total.

INTERNAÇÕES – Em 2009, o SUS registrou 883. 6 internações por causas externas. Elas representaram cerca de 8% do total de internações (foi o quinto maior motivo de hospitalizações). Isso significa que, para cada morte, aproximadamente sete pessoas são internadas.

Os homens, principalmente os adultos jovens e vítimas de acidentes, foram os que mais precisaram de internações (70,3% do total) e de atendimentos de emergência (65%). Eles correm risco 2,4 vezes maior do que as mulheres de serem internados por causas externas.

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