Estudos recentes correlacionam o consumo de álcool com benefícios para o coração, mas há evidências de que a ingestão regular de álcool, mesmo com moderação, pode aumentar o risco de desenvolver alguns tipos de câncer no longo prazo.
Pesquisas correlacionam o álcool a um maior risco de desenvolvimento de câncer de mama, fígado, cólon, pâncreas, boca, garganta, laringe e esôfago. Um estudo mais recente acrescentou o câncer de pulmão a esta lista - mesmo para pessoas que nunca fumaram cigarros.
Para alguns desses tumores, como os de laringe, pulmão, cólon e reto, o risco de câncer só se instala quando as pessoas bebem mais de três ou quatro drinques ao dia regularmente. No entanto, a ingestão de apenas um drinque por dia aumenta o risco de câncer de boca e esôfago, de acordo com o que mostram alguns estudos.
O risco de câncer de mama começa a aumentar com apenas três drinques por semana, de acordo com o estudo U.K.'s Million Women Study, um dos mais de cem que associam o consumo de álcool ao câncer de mama.
Para a maioria dos cânceres, o risco aumenta de forma constante se as pessoas consomem maior quantidade de álcool regularmente. No geral, os homens que bebem três ou mais drinques por dia têm um risco 41% maior de morrer de qualquer tipo de câncer. Já as mulheres aumentam o risco em 20% por beber duas ou mais bebidas alcoólicas por dia, de acordo com uma análise de pesquisas do governo dos EUA publicada no American Journal of Epidemiology deste mês.
Grande parte dos dados que ligam o álcool ao câncer vem de estudos observacionais que podem mostrar correlações, mas não mostram causa e efeito. Mas o grande volume de tais estudos fornece evidências convincentes de que o álcool está causando aumento no número de tumores malignos, particularmente tumores da cabeça e do pescoço, fígado, cólon e mama, segundo afirmam alguns epidemiologistas.
Os cientistas estão apontando explicações de como o álcool pode causar câncer, tais como elevação dos níveis de estrogênio, produtos químicos nocivos do tabaco danificando o DNA e interferindo na sua reparação, dentre outras. Eles também já identificaram variações genéticas que fazem com que algumas pessoas se tornem particularmente suscetíveis ao desenvolvimento de tumores relacionados à ingestão de álcool.
Autoridades de saúde pública estão incitando os médicos a serem mais vigilantes em perguntar aos pacientes sobre seus hábitos de consumo de bebidas alcoólicas e em informá-los sobre as consequências do consumo crônico de álcool e seus prejuízos à saúde, mesmo para aqueles que consomem as bebidas de forma moderada.
Segundo Samir Zakhari, diretor da divisão de metabolismo e efeitos na saúde do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism, "o câncer não acontece de um dia para o outro. [...] É a exposição repetida ao álcool, durante um longo período de tempo, que tem um efeito cumulativo e pode causar danos".
É claro que nem toda pessoa que bebe terá câncer e que nem todos que têm câncer consomem bebidas alcoólicas. Apenas 3,5% das mortes por câncer em todo o mundo (230 mil por ano) são atribuíveis ao álcool, de acordo com uma análise de 2006 da Organização Mundial da Saúde. Mas especialistas estimam que 90% dessas mortes em homens poderiam ser evitadas se eles não bebessem mais de dois drinques por dia e 50% das mortes em mulheres poderiam ser evitadas se elas não bebessem mais de um drinque ao dia.
Você poderia se perguntar: Então, por que beber álcool? Graham Colditz, diretor de prevenção do Siteman Cancer Center na Washington University School of Medicine diz que “quantidades moderadas de álcool reduzem os riscos de doenças cardíacas”. De fato, em pequenas quantidades, o álcool ajuda a limpar as artérias coronárias, aumenta o colesterol bom (HDL) e reduz coágulos sanguíneos. Muitos estudos mostram que o consumo de um ou dois drinques por dia reduz o risco de doença cardíaca e derrame.
Um estudo mostrou que homens que consumiam oito a catorze drinques por semana tinham um risco 59% menor de insuficiência cardíaca comparados a aqueles que não bebem. Mas especialistas alertam que beber regularmente mais do que isso pode causar danos cardiovasculares, elevando a pressão arterial, aumentando o risco de acidente vascular cerebral hemorrágico e levando à cardiomiopatia.
O álcool é mais fortemente associado aos cânceres de boca, garganta, laringe e esôfago. Muitos consumidores regulares de álcool também fumam cigarros, o que multiplica os riscos, afirmam pesquisadores.
Alguns estudos sobre câncer de pulmão têm mostrado que a doença foi principalmente atribuída ao tabagismo, não ao hábito de beber. Mas um estudo apresentado no American College of Chest Physicians, na semana passada, mostra os registros de análise de 126.293 pacientes no sistema de saúde Kaiser Permanent, na Califórnia, que descobriu que aqueles que tomavam três ou mais drinques por dia tinham 30% a 40% mais chance de desenvolver câncer de pulmão, independentemente da sua história de tabagismo.
"Pessoas que nunca fumaram, fumantes passivos, pessoas que pararam de fumar e fumantes atuais, todos eles tinham um risco aumentado para câncer de pulmão, se fossem consumidores pesados de bebidas alcoólicas", segundo Stanton Siu, chefe de cuidados pulmonares e intensivos do Kaiser Permanent e coordenador principal do estudo.
Tais estudos epidemiológicos têm limitações em relação à identificação da quantidade exata de álcool que provoca o maior risco para o desenvolvimento de tumores e à frequência do consumo. Muitas outras perguntas permanecem ainda não respondidas. Os resultados ainda não definiram o tipo de bebida que causa maior risco de tumores (o estudo do Kaiser Permanent encontrou um vínculo mais forte com a cerveja). Os investigadores estão ainda avaliando o papel dos padrões de consumo.
A análise das mortes por câncer nos EUA mostrou que a quantidade de álcool era mais importante para o risco de câncer em geral para os homens, enquanto que a frequência do consumo era mais significativa para as mulheres. Também não está claro quanto tempo leva para reduzir o risco, uma vez que os indivíduos param de beber.
No Canada's Centre for Addiction and Mental Health descobriram que o risco de câncer de cabeça e pescoço só voltou aos níveis normais depois de 20 anos sem beber, de acordo com um estudo publicado no International Journal of Cancer em 2007.
Como tantas outras coisas na medicina, os prós e contras de consumir bebidas alcoólicas pode ser altamente individual, dependendo do histórico familiar e de outros riscos à saúde.
Algumas pessoas devem ser fortemente encorajadas a não beber, incluindo mulheres que estão grávidas ou tentando engravidar, alcoólatras em recuperação, pessoas que fazem uso de determinados medicamentos, pessoas que vão conduzir veículos e aqueles que são menores de 21 anos.
Para todos os outros, o conselho padrão ainda faz sentido. Como o Dr. Colditz diz: "Se você optou por ingerir bebidas alcoólicas, beber não mais do que um drinque por dia para mulheres e um ou dois drinques ao dia para os homens pode levar a um benefício potencial para doenças do coração, sem aumentar demasiadamente o risco de câncer."
Benefícios do consumo moderado de álcool (uma dose por dia para mulheres e duas doses para os homens):
- Reduz o risco de doença coronária em 30% a 35%. Aumenta o colesterol "bom" ou HDL colesterol.
- Previne a agregação plaquetária, reduzindo os coágulos de sangue e diminuindo o risco de insuficiência cardíaca congestiva.
- Reduz o risco de ataque cardíaco em 40% a 50% em homens saudáveis.
- Reduz o risco de derrame e demência.
- Fonte: Journal of the American College of Cardiology, 2007.
Risco de câncer ligado ao consumo de álcool (os riscos variam com a quantidade de álcool consumida):
- Aumenta o risco de câncer oral e de faringe em 20% e o risco de câncer de mama em 8% entre pessoas que consomem um ou mais drinques por dia.
- Aumenta o risco de câncer oral em 73%, o risco de câncer de fígado em 20% e o risco de câncer de mama em 31% entre as pessoas que consomem duas a três bebidas por dia.
- Associado a um aumento de cinco vezes no risco de câncer oral, faringe e esôfago em pessoas que consomem quatro ou mais drinques por dia.
- Aumenta o risco de câncer colorretal em 52%, o câncer de pâncreas em 22% e o de câncer de mama em 46%.
Fontes: Nutrition and Cancer, 2011; Alcohol Research & Health, 2001; U.K.'s Million Women Study, 2009, através do news.med.br.