Os indicadores mais recentes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), revelam uma triste constatação: piora o índice de qualidade na rede pública estadual do Rio Grande do Norte.
As altas taxas de evasão e a reprovação escolar, em todos os níveis, mostram que existe uma diferença abissal entre o que é ensinado na rede particular e o que é ministrado nas escolas públicas.
Em 2010, de acordo com o levantamento que ficou pronto no mês passado, 18,3% dos alunos matriculados no Ensino Fundamental da rede estadual norte-rio-grandense foram reprovados, enquanto a reprovação da rede privada foi de apenas 4,5%. O alento é o nível médio, onde não há diferença tão grande: a reprovação é de 6,4% nas escolas estaduais, e de 6,2% nas particulares.
Entre os estados do Nordeste, o Rio Grande do Norte aparece em 3º lugar no ranking de reprovação no que diz respeito aos colégios da rede estadual. O menoríndice é o do Maranhão (10%), e o maior de Sergipe (23,5%), que também amarga o pior percentual do país.
Para secretária estadual de educação, Betânia Ramalho, parte da explicação sobre esse índice de reprovação reside na passagem do 5º para o 6º ano do Ensino Fundamental. "Com a mudança no sistema pedagógico, há uma dificuldade de acompanhamento, readaptação ao método de ensino. Sai a figura do professor polivalente, entra o professor por área de conhecimento. E, com a fragilidade na base do sistema, torna-se frágil sua continuidade", analisou.
A escola pública, segundo a secretária, ainda não tem atratividade para o aluno. Some-se a isso as condições sócio-econômicas desfavoráveis, a trajetória familiar do alunado e a falta de incentivo governamental. "A escola pública é um reflexo da sociedade brasileira. A rede privada, além de ter uma escola mais bem estruturada, tem a família que acompanha e fatores importantes para elevar os índices de aprovação, como aulas suplementares, de reforço, entre outros mecanismos".
Eleika Bezerra, educadora do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), complementa a informação da secretária, acrescentando que, enquanto o cliente da escola pública não alterar seu nível de exigência, sua qualidade vai ser questionada. "Me convenci de que a apatia, a indiferença dos que frequentam a escola pública é muito grave. A educação pública não é prioridade. Hoje em dia o governo incentiva o crescimento do número de matrículas, mas não adianta o aluno estar na escola se não se sabe o que acontece dentro dela", critica.
Faltam recursos e continuidade administrativa
Não há dúvidas que os recursos da educação pública são insuficientes. O custo-aluno, nas séries onde mais se verificou altos índices de reprovação no estado (6º ao 9º ano) é de R$ 1.899,61. "Com o alto índice de reprovação e repetência, o custo-aluno acaba se configurando custo-desperdício.
O investimento somos nós que pagamos", conclui a educadora do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), Eleika Bezerra. A secretária estadual de educação, Betânia Ramalho, credita o insucesso da maioria das escolas públicas à falta de foco. "Em 8 anos, foram dez secretários e, nesta situação, não há como haver foco num projeto educativo. Por isso iniciamos, ao assumirmos a Secretaria Estadual de Educação e Cultura (SEEC), uma política centrada no ensino e aprendizagem. Fazer com que haja ensino para que haja aprendizagem".
É preciso mais. "Uma escola tem que ser atrativa, deveria ser o prédio melhor aparelhado, que sirva de referência não apenas ao aluno, mas a toda sociedade. Deveria ser um templo", avalia Betânia,que declarou ter iniciado um projeto de educação para fazer com que os recursos do MEC e do Estado incidam na formação continuada dos professores e na melhoria das escolas públicas do Rio Grande do Norte. "A educação inclui valores, inclui formação para a cidadania, tanto nos direitos quanto nos deveres do cidadão. Sem esse equilíbrio, e um estado forte socialmente, essa equação não fecha", afirma ela.