Expandir o projeto desenvolvido na escola do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra (IINNELS), no município de Macaíba, para outras 12 cidades do Brasil. Este é o atual objetivo do neurocientista Miguel Nicolelis, que pretende apresentar sua nova ideia à presidenta Dilma Rousseff, em Brasília, na próxima semana. "Toda criança de Macaíba terá educação desde o pré-natal até a vida adulta. Vamos espalhar esse tipo de projeto a outros locais do país", garante.
O neurocientista apresentou a ambição de estender o projeto durante conferência no Teatro Alberto Maranhão, em que apresentou os resultados sobre a técnica que capta e digitaliza sinais elétricos emitidos pelos neurônios e fez o lançamento do livro "Muito além do nosso eu". Nicolelis espera apresentar resultados mais significativos ainda na abertura da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. "Estamos trabalhando para que um paraplégico ou tetraplégico consiga se movimentar dando o ponta-pé inicial da Copa emitindo sinais elétricos aos neurônios utilizando um equipamento especial no corpo apenas com a força do pensamento", explicou.
Com o projeto Andar de Novo, o cientista espera provar para o mundo que o Brasil não é capaz apenas de fazer gols numa partida de futebol, mas gols científicos para a humanidade. Para Nicolelis, os testes em seres humanos serão mais fáceis porque as pessoas podem falar e conversar informando o que estão sentindo, fato que com os animais é impossível porque as tentativas dos animais para movimentar os membros parados é exclusivamente intuitiva.
Cada pessoa vai vestir uma espécie de armadura que será comandada pelos estímulos do cérebro. "O corpo vai assimilar aquela roupa como se fosse um automóvel. No início será um pouco difícil para movimentar todas as partes, mas depois a pessoa fará os movimentos automaticamente como nós ao dirigir um veículo", espera.
"Estamos iniciando a era do culto ao pensamento"
Durante a conferência, Nicolelis afirmou que a era do culto ao corpo está chegando ao fim. "Estamos iniciando a era do culto ao pensamento", acredita. Na opinião do neurocientista, as pessoas vão passar a se preocupar mais no que viveram e no que pensaram ao longo de sua vida. A ideia é que daqui para a frente as pessoas se preocupem mais com a saúde da mente do que com o culto ao corpo", avalia.
Enquanto apresentava os estudos que podem mudar a vida de milhares de pessoas em todo o mundo, o cientista, brincalhão e irônico, criticou a "ajuda" que tem recebido no RN. "Do governo do estado tenho recebido umas coisinhas. Da Prefeitura de Macaíba recebo apoio e a Prefeitura de Natal ainda está esperando saber o que estamos fazendo aqui, mas daqui não vamos sair", ressaltou Nicolelis arrancando aplausos da plateia.
Apoio
Ao final da conferência, o neurocientista Miguel Nicolelis respondeu às perguntas dos presentes que lotaram o Teatro Alberto Maranhão. Uma delas foi sobre o investimento que o Instituto Internacional de Neurociências de Natal tem recebido do poder público. Sem titubear o neurocientista informou que para cada real investido pelo governo federal brasileiro através dos ministérios da saúde, educação e ciência e tecnologia, "trouxe dois de qualquer lugar do mundo".
Nicolelis informou também que os testes sobre o mal de Parkinson continuam sendo feitos no Instituto de Neurociência em roedores e logo serão realizados em primatas. "Caso os resultados continuem evoluindo vamos passar para a avaliação em pacientes", garante.
Livro é voltado para público leigo
Em "Muito além do nosso eu", o premiado cientista Miguel Nicolelis revela suas ideias revolucionárias acerca das pesquisas que vêm desenvolvendo. No livro ele explica como o cérebro cria o pensamento e a noção que o ser humano tem de si mesmo e como tudo isso pode ser ampliado com a ajuda das tecnologia. Direcionado ao público leigo, o livro descreve os últimos passos que a ciência vem dando para a criação das interfaces cérebro-máquina.
Essas interfaces poderão, segundo o cientista, um dia devolver a mobilidade a pacientes com paralisia grave, graças ao uso de "exoesqueletos" membranosos, que serão vestidos como uma roupa. As descobertas de Nicolelis e sua equipe oferecem também um caminho para a cura de distúrbios neurológicos como a doença de Parkinson e o mal de Alzheimer, sem contar as fascinantes perspectivas de comunicação tátil, a longa distância e de exploração do fundo do mar e do espaço.