terça-feira, 5 de julho de 2011

Especialistas advertem sobre riscos que carregam os corantes presentes em alimentos e remédios

Às vezes, um doce, um chocolate ou um simples pacote de tempero podem se transformar em perigosos inimigos para o organismo humano. O problema é que esses alimentos industriais e mesmo alguns remédios causam alergias que podem provocar até um edema de glote -reação alérgica grave que pode levar à morte se não houver uma intervenção médica rápida.

Em mais uma tentativa de controlar a venda e o consumo de certos produtos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que todos os alimentos e medicamentos que incluam o corante sintético tartrazina em sua composição devem exibir um aviso no rótulo. Porém, como a ordem ainda não está sendo cumprida, os alérgicos ao produto ou a outros corantes continuam se expondo a riscos. Eles se comportam como se estivessem no escuro, provando uma coisa aqui ou um veneno ali, sentindo as reações e cortando os produtos de suas listas.

Substâncias como a tartrazina pertencem ao grupo dos aditivos alimentares e são eles que conferem cor aos alimentos, mas também são usados em cosméticos e medicamentos. Corantes naturais costumam ser bem tolerados pela maioria das pessoas e raramente provocam alergia. Já os sintéticos são aditivos mais relacionados à alergia. "Eles são utilizados para melhorar o paladar, a aparência ou mesmo como excipiente de alimentos, estando presentes em inúmeros produtos como sucos, balas, gelatinas, molhos, refrigerantes e laticínios. Além disso, podem ser usados na fabricação de remédios", explica Marly Marques da Rocha, médica alergista e imunologista.

De acordo com Marly, esses pigmentos causam reações adversas após a ingestão de alimentos ou aditivos alimentares. "Essas podem ser classificadas em reações tóxicas e não tóxicas. As não tóxicas podem ser desencadeadas diretamente por fatores imunológicos ou não imunológicos", salienta. A especialista destaca dois grupos de corantes campeões em alergia: os azocorantes ou corantes amarelos, como a tartrazina, o ponceau e o amarelo crepúsculo; e os não azocorantes, como o azul brilhante, a eritrozina e a indigotina.

A médica explica que a tartrazina é o mais citado e deriva de uma substância denominada coaltar (substância com ação anti-inflamatória), que contém algumas semelhanças com o ácido acetil-salicílico (AAS) e outros anti-inflamatórios não hormonais. Por isso, acredita-se que algumas pessoas sensíveis a esses remédios poderiam também ter reação alérgica ao ingerir a substância. "A quantidade de tartrazina contida nos medicamentos não é significativa para provocar alergia. Embora seja obrigatório referir na bula o aviso de que pode causar asma em pessoas sensíveis ao AAS, muitas vezes confunde o paciente", observa.

Saiba mais

As alergias a alimentos e remédios podem se manifestar também por meio de sintomas variados no sistema respiratório, como falta de ar e broncoespasmo, ou por crises de vômitos e cólicas. Sabe-se que alguns tipos de aftas de repetição e estomatite alérgica de contato podem ser relacionadas com a ingestão de aditivos alimentares. "As lesões se iniciam em geral poucas horas após a ingestão do aditivo e podem ocorrer por saturação; ou seja, quanto mais ingerir, maior a possibilidade de reação", ressalta Marly Marques.

Embora raras, as complicações são descritas como reações anafiláticas a sulfitos (compostos químicos usados como antioxidantes na indústria alimentar). Quanto ao tratamento, é necessário identificar a reação ao corante, por meio de exames e observação e, a partir daí, evitar sua ingestão. "É fundamental que eles (os sulfitos) estejam descritos nos rótulos de alimentos e medicamentos", sugere. A médica acha importante pesquisar rótulos de alimentos industrializados, pois podem vir com o nome do corante.

Uso controlado

A tartrazina é um pigmento sintético que proporciona a cor amarelo-limão em alimentos. Seu uso mais frequente se dá em bala, goma de mascar, gelatina, cosméticos e medicamentos. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, a tartrazina é muito utilizada em sua cor amarela e para produzir vários tons de verde. O uso da tartrazina é proibido na Noruega e já foi banido na Áustria e Alemanha, antes de o Conselho Diretivo da Comunidade Europeia ter revogado sua proibição.

Prevenção

>> Dietas devem ser feitas com a indicação do médico alergista;

>> Prefira alimentos naturais. Uma fruta ou um suco são certamente mais saudáveis comparados a refrigerantes e a outros produtos industrializados;

>> Excluir o corante totalmente da dieta;

>> Não existem testes (na pele ou no sangue) eficazes para diagnóstico de alergia aos corantes.

De Rebeca Ramos do Diário da Borborema.